A arte triunfa sobre o comércio? – Parte 8

Porque o liberalismo burguês, em geral continua a funcionar como a ideologia declarada e não declarada das instituições de arte, a mudança sociológica real em direção à burocratização pequeno-burguesa do trabalho intelectual permanece invisível. Nos últimos anos, o movimento Euro MayDay começou a citar as condições de trabalho intelectual e criativo com termos como cognitariado e precariado e também conceitos progressistas de intervenção, como a flexigurança – segurança para os trabalhadores em uma economia que exige flexibilidade e adaptação constante. Um dos ícones que emergiram do movimento vem direto das páginas da Contra-Reforma. Seu nome é Saint Precario, santo padroeiro do precariado. Saint Precario é a figura que está entre os dois extremos da dupla moralidade da política neoliberal, de acordo com o manifesto do movimento Barcelona EuroMayDay.

“Somos a precariedade, a flexibilidade, o temporário, o móvel. Nós somos as pessoas que vivem em uma corda bamba, em um equilíbrio precário. Somos os reestruturados e terceirizados, aqueles que não têm um emprego estável, e aqueles que são superexplorados, aqueles que pagam uma hipoteca ou temos uma renda que nos estrangula. Somos obrigados a comprar e vender a nossa capacidade de amar e de cuidar. Somos como você: contorcionistas de flexibilidade”.

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O outro lado da insegurança da vida cotidiana é a velocidade do marketing. Já no final de 1970, Bourdieu demonstrou como o novo habitus pequeno-burguês estava em processo de suprir a economia com o consumidor perfeito – ouso dizer, o aluno perfeito. O modelo de indústria cultural da comunicação comercial, com sua tecnocracia gerencial e retórica populista também corteja comunidades de dissidência e, ao mesmo tempo, deixa pouco espaço para qualquer cultura que efetivamente ameaça a hegemonia do mercado. Se há uma lição a ser aprendida a partir do Caravaggio de Schama, é de fato o ponto de identificação quando o pintor aplica seu autorretrato com a cabeça de Golias. O mundo que existe só existe na medida em que nos identificamos com ele e porque os identificamos como o único mundo possível.

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Este trabalho, de Marc James Léger, foi apresentado no âmbito de um curso de graduação sobre a história da arte do Renascimento e arte Barroca na Bishop’s University, Lennoxville / Sherbrooke , Québec, em 25 de outubro de 2007. Anterior a esta palestra, os alunos tinham assistido ao episódio em Caravaggio, que é parte da série ‘Power Of Art’ de Simon Schama.
A tradução para o português é de Alexandre Nix.

Fonte

 

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