Entrevista: Bruno Dunley

Dia 13 de agosto inicia o novo programa de formação Vitamina 2E1 “Ainda pintura: as mortes anunciadas e a produção atual” com coordenação de Bruno Dunley, em nosso ateliê. Neste programa, dividido em três módulos, serão abordadas questões práticas e teóricas relacionadas à pintura na atualidade. Em entrevista, Bruno Dunley fala sobre sua carreira e sobre a estrutura do Vitamina 2E1 – A Pintura Hoje.

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Bruno Dunley. Navio III. 2012 Óleo sobre tela, 160 x 120 cm

 

1. Fale um pouco sobre sua trajetória profissional.

Comecei a desenvolver meu trabalho sistematicamente a partir de 2006, ano em que aluguei meu primeiro ateliê. Me formei bacharel em artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina, em 2009, e cursei a graduação em Fotografia do Senac – São Paulo.
Em 2007, realizei minha primeira exposição no Ateliê 397, em São Paulo, e, em 2008, participei de diversas exposições coletivas como: “5 ̊ Exposição de Verão na Silvia Cintra Galeria de arte + Box 4”, no Rio de Janeiro, Programa de exposições 2008, no Museu Victor Meirelles em Florianópolis e “2000 e oito – Novos Artistas Para Novas Pinturas”, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Em 2009, participei da “Nova Arte Nova”, exposição realizada no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, com curadoria de Paulo Venâncio Filho. Em 2010, realizei a exposição individual “Os Nomes”, na Galeria Marília Razuk em São Paulo, participei da “Paralela 2010 – A Contemplação do Mundo”, no Museu de Artes e Ofícios de São Paulo e realizei, com Lucas Arruda, a exposição “Deserto – Modelo”, na 713 Arte Contemporâneo, em Buenos Aires. Em 2011, participei das exposições “Os primeiros 10 anos”, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo e “Assim é se lhe parece” no Paço das Artes, São Paulo. Realizei em 2012 a individual “Bruno Dunley no 11 Bis Project Space”, em Paris e esse ano, 2013, realizei a mostra individual “e” no CEUMA – Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo – SP.

2. Nos conte algumas experiências importante para sua formação.

Entre 2004 e 2010, atuei como pesquisador e educador no Instituto Tomie Ohtake. Nesse ambiente, desenvolvi através de leituras, debates com colegas de trabalho, contato com artistas, curadores, montadores e produtores de exposições, uma percepção mais ampla sobre o universo da arte. Além dessas atividades, que o trabalho proporcionava, frequentei diversos cursos livres que complementaram a minha formação na Faculdade Santa Marcelina.
Além da leitura e dos cursos livres, frequentar exposições de arte foi muito importante na minha formação. Considero o contato direto com trabalhos de arte o mais alto aprendizado sobre sua linguagem. Nesse pensamento, acabei realizando diversas viagens para ver arte. Em Milão, Veneza, Florença, Assis, Pádua, Bolonha, Paris, Madrid, Barcelona, Nova York, Viena, Buenos Aires, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo pude visitar diversos museus, galerias e instituições de arte que me proporcionaram esse contato direto com trabalhos de diversas épocas.

3. Essas experiências influenciaram o desenvolvimento do programa Vitamina “Ainda pintura: as mortes anunciadas e a produção atual”? De que modo?

Sim. Ver e pensar arte sempre foram experiências importante para mim. Considero um trabalho de arte um ato pensante, uma linguagem que nos coloca em contato com o mundo assim como outra qualquer, mas claro que a linguagem da pintura, por exemplo, possui suas particularidades assim como a linguagem escrita, sonora e assim por diante.
O Vitamina 2E1 – A Pintura Hoje ou “Ainda pintura: as mortes anunciadas e a produção atual” vem dessa experiência direta com a pintura através da observação, do trabalho de ateliê e do gosto que tenho pela historia da arte e historia da pintura. Percebo este programa como uma investigação, como o levantamento de diversas questões que envolvem a existência da pintura, sua relação com o mundo e com outros meios de arte nos últimos cem anos.

4. O primeiro módulo tem um enfoque teórico e histórico. Você considera a contextualização da pintura na contemporaneidade fundamental para a prática pictórica?

Como escreveu Harold Rosenberg, “A capacidade intelectual do artista, obtida pela absorção e assimilação dos problemas da arte, é o produto máximo da arte – e seus sinais é que conferem valor às pinturas e esculturas em particular”. Como foi escrito no início da década de 1960 eu apenas atualizaria esse frase trocando “pinturas e esculturas” por “pinturas, esculturas, objetos, instalações, vídeos, fotografias, ações, coisas…” e o que mais você quiser. Ao mesmo tempo, não consigo afirmar alguma coisa como fundamental em arte. Para mim, ver e pensar arte é muito importante. Tão importante quanto fazer ou tentar fazer.

5. Como foi a seleção dos artistas para o módulo de debates? Existe uma relação entre a obra deles e os conceitos debatidos no primeiro módulo?

Sim. Eu convidei artistas que lidam com pintura, seja de modo mais tradicional, tinta sobre pano, ou através de articulações mais objetuais e espaciais para debater a pintura no mundo hoje. Acredito que todos os artistas convidados já pensaram em algum momento sobre a morte da/na pintura ou a morte da/na arte. A pintura moderna se desenvolveu sobre esse fantasma. O fantasma do fim da representação, do fim da produção manual em prol da produção industrial, da ausência de sentido da pintura no mundo atual.
A produção dos artistas é a maior resposta a todas essas e outras questões, pois são feitas dentro da sensibilidade da linguagem visual. A intenção dos debates é conseguir dar outro sentido a tudo isso através do diálogo e do encontro.

6. Conte um pouco mais sobre o Laboratório Expositivo do terceiro módulo.

A intenção desse terceiro modulo é desenvolver o trabalho prático. A ideia é trabalhar juntos esse ato pensante, desenvolver a percepção para os caminhos que o próprio trabalho pode tomar através da prática. Novamente, é desenvolver o diálogo e o encontro, mas com o foco no fazer.

7. Qual é o principal diferencial desse curso?

A oportunidade de pensar sobre a pintura através das experiências que os artistas convidados vão apresentar nos debates. Eu priorizei a pluralidade de poéticas e meios utilizados pelos artistas convidados, sempre com foco na pintura. São artistas de gerações e experiências diversas. São artistas de projeção nacional e internacional, uns com trabalho consolidado na história recente da arte brasileira e outros mais em início de carreira. Essa aproximação entre os participantes do programa e os artistas convidados dará uma noção ampla, fundamental e muito importante do fazer pictórico na atualidade.

 

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