Entrevista: Daniele Dal Col fala sobre o programa Gestão de Carreira para Artistas Visuais.

Daniele Dal Col ministra, a partir do dia 14 de agosto, no Coletivo2E1 o programa Gestão de Carreira para Artistas Visuais. Na entrevista abaixo, ela fala sobre a concepção do curso, seu desenvolvimento e sua importância no contexto nacional.

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1. Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional.

Sou formada em marketing, com especialização em marketing de relacionamento. Comecei minha carreira em uma agência de marketing direto [WCJ_Y&R]. Tive muita sorte desde o início, por trabalhar com gente muito boa e aprender com todos eles. Do planejamento na agência passei por outras áreas, tais como atendimento, web… até acabar “do outro lado do balcão”, como cliente, na área de Marketing do Banco Santander. Eu já estudava História da Arte com o Rodrigo Naves nesta época. Sempre tive vontade de trabalhar nesta área, a das artes visuais. Uma amiga me indicou para trabalhar na Fortes Vilaça. Fui meio sem saber o que eu iria encontrar… Enfim, de lá para a Laura Marsiaj (RJ), da Laura de volta a SP. Em 10 anos, eu passei por absolutamente todas as áreas de uma galeria e fiz de tudo um pouco. Mesmo trabalhando com arte eu nunca deixei de aplicar o que eu havia aprendido na faculdade, ou por onde eu passei antes de trabalhar em galerias, mesmo quando fiz o meu MBA havia uma preocupação em aplicar estes conhecimentos de gestão/finanças ao mercado de arte e acho que este é o diferencial do meu trabalho.

As pessoas que costumam trabalhar em galeria normalmente vêm de outras formações: jornalismo, artes, historia da arte, filosofia, letras, são poucas as que têm formação em administração ou gestão. Acho que ter trabalhado previamente em empresas de grande porte, internacionais, com processos de trabalho complexos, pressão por resultados etc me deu outra visão. Uma visão mais abrangente ou com uma estrutura de visão de negócios diferente.

2. O tema do programa é Gestão de Carreira para Artistas Visuais. O que te levou a chegar nesse assunto?

A ideia começou com formação para profissionais que trabalham em galeria, e acabou chegando aos artistas. Foi por convivência… Eu acabei me tornando amiga de muitos artistas e sempre surgiam dúvidas, questões, que pra mim eram muito fáceis de resolver e que para eles não. Eu sempre ajudava, dando um toque, tirando dúvida financeira, fiscal, de repente começou a espalhar e quando eu vi estava fazendo isso com uma frequência grande. Pensei que este poderia ser um bom momento para – ao invés de fazer isso individualmente como eu estava fazendo – fazer em grupo porque as dúvidas são muito parecidas. Também, porque sempre me incomodou um pouco a ideia que alguns artistas têm de que entrar em uma galeria é a resolução de todos os seus problemas. Existe uma grande confusão sobre os papéis dos players deste mercado, então ao esclarecer as funções de cada um deles esses papéis ficam claros, inclusive o do artista, as relações fluem melhor. Não criar expectativas falsas evita frustrar estas mesmas expectativas. E quando entendemos que cada um tem que fazer a sua parte para que as coisas aconteçam todos trabalham melhor e o processo é mais fluido.

3. O programa de Gestão de Carreira para Artistas Visuais é pioneiro no Brasil. Quais foram os desafios encontrados durante a elaboração do seu conteúdo programático?

Os desafios são grandes. Eu tenho certeza que este conteúdo vai acabar se modificando com o tempo, através das experiências durante as aulas. É um processo constante de lapidação. Eu já tinha as linhas gerais, coloquei tudo no papel e fui dividindo com amigos que também são educadores, e eles foram me ajudando a melhorar. Novamente, eu tenho muita sorte de contar com o apoio de gente brilhante que sempre tem o maior carinho pelos meus projetos. Neste caso, tenho que fazer um agradecimento super especial à Ana Henriette Lugard pelo tempo, ideias, conhecimento e amor dedicado neste processo. Além de todos os artistas que me colocaram as dúvidas para que pudesse desenvolver este material. Sem eles, seria impossível.

4. Você consultou outros artistas durante o planejamento do programa? Por quê?

Claro, os mesmos que me consultam foram consultados porque o curso tinha que estar focado nas dúvidas que eles têm e nas dificuldades que enfrentam no dia a dia.

5. Cite alguns tópicos abordados pelo curso.

O curso começa falando do sistema da arte de modo geral: galerias, instituições, espaços independentes, crítica e curadoria, colecionismo, incentivos do governo ou da iniciativa privada [bolsas, prêmios e editais], questões específicas do artista, desde como organizar as obras no ateliê, ficha técnica correta destas obras a questões de gestão mais específicas como controles financeiros, contratos, comércio exterior, abertura de empresa, para depois focar em planejamento de carreira a médio e longo prazo.

6. O programa terá abrangência nacional e será oferecido através de ferramentas de Educação a Distância. Qual a importância de um curso como esse no contexto brasileiro?

Acho boa a ideia de usar EAD porque quem está longe dos grandes centros também consegue ter acesso ao conteúdo que normalmente não está disponível em outras cidades. Eu mesma era um pouco reticente e mudei de ideia depois de participar de alguns cursos ministrados desta forma e ver que são bons, com conteúdo interessante e que eu não teria possibilidade de fazer de outra forma, ou com os custos de um deslocamento para poder ter acesso a este conteúdo da forma tradicional.

Estamos em um momento de expansão da economia brasileira onde vemos o mercado de arte buscando profissionalizar-se cada vez mais. Diversas escolas oferecendo cursos de formação para áreas que nunca foram pensadas antes – como o curso de formação para profissionais que trabalham em galerias na Escola São Paulo, ou mesmo consultores indo às galerias implantar processos de trabalho, as galerias unidas em uma associação e com projetos de fomento do Governo, como APEX-ABACT… Acho que estamos caminhando para um mercado cada vez mais profissional e organizado e é importante que os artistas também se organizarem e se profissionalizem.

Por Monica Rizzolli

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