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Inês Quiroga – Camadas de peles sutis
As paredes do MAM gotejam. Rastros acinzentados no concreto. Paisagens aquosas brotam de diagonais perfeitas. Simetricamente dispostas respeitam.
“Ninguém pode desprezar o mar.”
Não, Reidy não deu as costas ao mar. Colocou-se (quase) em paralelo. Um paralelepípedo permeável. De ar. Que corre e avança passarela adentro. Rumo à cidade que derrubou morros e fez crescer chão. E esqueceu-se: tudo ainda é do mar.
Os pilares do MAM balançam, os homens doutros lugares resistem e as gotas salgadas indicam: infiltrar. Então, infiltremos, juntos. A terra agora não é mais lá. É aqui.
Durante um mês, Inês olhou incessantemente uma coluna de concreto do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro gravada em um pequeno fragmento fotográfico. Tanto as palavras quanto a imagem fazem parte de um trabalho em processo que, até o momento, se movimenta apenas entre a gaveta e as paredes de sua casa.
[Estudo para circulação | Proposição I: fazer terra com o mar, s/d – em processo]
No entanto, esses fragmentos dizem muito sobre seu processo de trabalho artístico. Um título, uma imagem nebulosa em sua cabeça, uma frase de um livro, uma fotografia qualquer de jornal ou de seu HD podem ser possíveis pontos de partida para suas proposições. Sim, é assim que ela prefere referir-se aos seus trabalhos: imagens que contém proposições de mundo, desejos de dissolução de fronteiras, corpos mesclados ao espaço.
Nas linhas criadas a partir do atrito do grafite sobre frestas do chão, nos fios de lã vermelha que se espalham e se prendem a diferentes partes de sua casa, na pequena montanha de pó originada da fricção de pedras, na nuvem roxa-rosa que emerge do chão de concreto ou no emaranhado delicado de palavras sobre papel japonês nos vemos diante de escritas em diferentes linguagens. Seja enquanto fotografia, instalação, desenho ou performance suas proposições de ideias são como camadas de peles sutis, exigentes de tempo para ver e sentir, e mais, para escutá-las é preciso ter os olhos bem abertos.