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Não se preocupe com o ‘cool’
Isto é de uma carta escrita em 1965 por Sol Lewitt, em resposta a Eva Hesse durante outro período de dúvida e dificuldade da artista . A carta é atemporal. Continua sendo um dos melhores conselhos que alguém já deu para um artista em perigo, para superar bloqueio criativo, e, provavelmente é uma das cartas mais compartilhadas entre artistas americanos.
Fonte: blog Creativiy in Motion
Querida Eva,
Faz quase um mês desde que você me escreveu e você possivelmente esqueceu seu estado de espírito de então (mas eu duvido). Você parece a mesma de sempre, e sendo você, odeia cada minuto disso. Pare com isso! Aprenda a dizer “foda-se” para o mundo de vez em quando. Você tem todo o direito. Pare de pensar, de se preocupar, olhando para trás, imaginando, duvidando, temendo, se machucando, esperando alguma saída fácil, sofrendo, tentando entender, se confundindo, ruminando, se coçando, resmungando, se atrapalhando, se humilhando, tropeçando, se entorpecendo, cambaleando, procurando pelo em ovo, lutando contra si mesma, saindo de fininho, chocando, reclamando, gemendo, gemendo, choramingando, empacando, arrancando os cabelos, puxando saco, empinando o nariz, com dor de cotovelo, furando os olhos, colocando a culpa nos outros, saindo de fininho, esperando, andando na ponta dos pés, botando olho gordo, trocando favores, secando, falando mal dos outros, se manchando, rangendo, rangendo, rangendo os dentes para si mesma. Pare e apenas FAÇA!
Pela sua descrição e pelo que sei do seu trabalho anterior e da sua habilidade; o trabalho que você está fazendo parece ser muito bom “Desenho-limpo-claro, mas maluco como máquinas, maior e mais ousado… total nonsense.” Parece bom, maravilhoso esse “total nonsense”. Faça mais. Mais absurdas, mais loucas, mais máquinas, mais seios, pênis, bocetas, o que quer que seja – faça com que fiquem sem sentido. Tente fazer cócegas em algo dentro de você, use esse seu “humor estranho”. Você pertence à parte mais secreta de você mesma. Não se preocupe com o “cool”, faça o seu próprio “uncool”. Faça o seu próprio mundo. Se você tem medo, faça ele funcionar para você – desenhe e pinte seu medo e ansiedade. E pare de se preocupar com coisas grandes e profundas como “decidir sobre um propósito e modo de vida, uma abordagem consistente para algum fim impossível ou até mesmo um fim imaginado” Você deve praticar ser estúpida, burra, irrefletida, vazia. Então você será capaz de FAZER!
Eu tenho muita confiança em você e mesmo que você esteja se atormentando, o trabalho que você faz é muito bom. Tente fazer algum trabalho ruim – o pior que você pode pensar e veja o que acontece, mas principalmente relaxe e deixe tudo ir para o inferno – você não é responsável pelo mundo – você é apenas responsável pelo seu trabalho – então O FAÇA. E não pense que seu trabalho precisa estar de acordo com qualquer forma, ideia ou sabor preconcebido. Ele pode ser qualquer coisa que você queira que seja. Mas se achar que a vida vai ficar mais fácil se você parar de trabalhar – então pare. Não se castigue. No entanto, acho que essa prática é tão profundamente enraizada em você que seria mais fácil FAZER!
Eu entendo sua atitude um pouco, de qualquer maneira, porque eu passo por um processo similar de vez em quando. Eu tenho uma “Reavaliação Agonizante” do meu trabalho e mudo tudo o que for possível – e odeio tudo o que fiz, e tento fazer algo totalmente diferente e melhor. Talvez esse tipo de processo seja necessário para mim, me empurrando e me fazendo continuar. A sensação de que eu posso fazer melhor do que essa merda que acabei de fazer. Talvez você precise da sua agonia para realizar o que faz. E talvez isso incite você a fazer melhor. Mas é muito doloroso, eu sei. Seria melhor se você tivesse confiança apenas para fazer as coisas e não pensar nisso. Você não pode deixar o “mundo” e a “ARTE” em paz e parar de acariciar seu ego? Eu sei que você (como qualquer um) trabalha muito e que no resto do tempo fica sozinha com seus pensamentos. Mas e se quando você trabalha ou, antes de começar o trabalho, você tentasse esvaziar sua mente e se concentrasse no que está fazendo? Depois de fazer algo, ele está feito e é isso. Depois de um tempo você pode ver que alguns são melhores que outros, mas também você pode ver em que direção você está indo. Tenho certeza que você sabe disso. Você também deve saber que não precisa justificar seu trabalho – nem mesmo para si mesma. Bem, você sabe que eu admiro muito o seu trabalho e não consigo entender por que você está tão incomodada com isso. Mas você pode vê-los próximos e eu não. Acredite em sua habilidade. Eu acho que você acredita. Então, crie as coisas mais escandalosas que puder – choque-se. Você tem ao seu alcance a capacidade de fazer qualquer coisa.
Eu gostaria de ver seu trabalho mas devo me contentar em esperar até agosto ou setembro. Eu vi fotos de algumas das novas coisas de Tom na Lucy. Eles são impressionantes – especialmente aqueles com a forma mais rigorosa: os mais simples. Eu acho que ele vai mandar mais alguns depois. Deixe-me saber como as exposições estão indo e esse tipo de coisa.
Meu trabalho mudou desde que você saiu e está muito melhor. Eu estarei em uma mostra entre 4 e 9 de maio, na Daniels Gallery, na 17 E 64yh St (onde Emmerich estava), eu queria que você estivesse lá. Muito amor para vocês dois.
Sol