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Entrevista com Bruno Mendonça sobre o programa de estudos intensivos “Vitamina 2E1 – Arte e Corpo”
2E1 – Você está concluindo o projeto Vitamina Arte Sonora. O que você considera de mais positivo nesta experiência e o que aprendeu sobre esse tipo de iniciativa?
Bruno Mendonça – O projeto Vitamina desenvolvido pelo 2E1 é muito interessante no sentido de que cobre um espaço de cursos voltados para a área das artes tanto em São Paulo, quanto no restante do país com a possibilidade do ensino a distância e por se tratar de um programa de aprofundamento intensivo teórico-prático. Esse tipo de programa/curso para mim foi muito importante porque me impulsionou a criar uma nova dinâmica de trabalho que não se encaixa nem no lugar da “orientação” ou “acompanhamento” realizado já por vários profissionais nem no ensino “formal” que desenvolvo como professor dentro da universidade. Acho que este pode ser o primeiro ponto positivo de ter feito parte desse projeto como coordenador/docente – esta criação de outra didática, mais horizontal, colaborativa, experimental. Este formato me permitiu então seguir uma ementa mais ampla, a explorar o conteúdo de forma expandida e mais livre, no sentido de que muitas questões, problemáticas e assuntos iam surgindo de forma orgânica.
Outro fator que gostaria de destacar é a realização de um curso inteiramente voltado para esta relação entre “arte e som”, que talvez tenha certo déficit por aqui. Isso já foi muito interessante.
A participação de convidados como artistas, pesquisadores e curadores também foi muito importante para o processo todo do curso. Realizar a “curadoria” destes convidados foi muito interessante para mim, pois eu tentei dar conta de uma visão mais macro sobre o assunto, então podemos ver no programa convidados de diversos backgrounds, vertentes e atuações.
Além disso, eu e os artistas participantes (inscritos no programa e convidados) criamos ali um espaço de interlocução e troca muito interessante, no qual muitos acabaram trabalhando entre si e eu também acabei desenvolvendo ações, projetos e trabalhos com eles…
Um exemplo disso é a publicação sonora que estamos desenvolvendo como resultado do curso e que será lançada em breve, além de desdobramentos que já estão ocorrendo.
Acho que de um modo geral foi muito prazeroso e produtivo desenvolver esse curso, pois foi intenso… gosto disso!
Thelma Bonavita – Glamour e Fúria Botânica – foto Renato Paschoaleto
BM – Bom, no decorrer do programa sobre arte sonora percebi que a relação entre performance e som era recorrente, tanto como recorte na minha própria pesquisa enquanto artista, pesquisador e educador, assim como ponto de interesse de grande parte dos participantes do curso. O corpo aparecia como questão frequente nas discussões. Isso impulsionou um pouco neste sentido, mas de fato dentro da minha pesquisa desenvolvida como docente na PUC-SP e já iniciada há alguns anos atrás o corpo já se apresentava como assunto inerente, mais precisamente no âmbito da performance. A performance aparece como uma prática bastante importante na minha produção, além disso ao longo dos últimos anos tenho trabalhado como colaborador e realizado parcerias com vários artistas que lidam com o corpo em seus trabalhos artísticos, uma boa parte deles estarão presentes no curso como convidados.
Paula Garcia – Da série Corpo Ruído
Marta Soares – O Banho – foto Foto Dança
BM – Sim, exatamente. Assim como fiz no primeiro curso, o de Arte Sonora, pensei em convidar especificamente todos estes artistas e pesquisadores com o propósito de dar uma visão mais ampla para o curso sem nos focarmos em uma prática artística específica, ou seja, todos os convidados para o curso foram pensados por conta de suas produções que possuem um caráter multimídia e que trafegam e cruzam por entre disciplinas, campos, segmentos, meios e contextos.
Marion Velasco – Video Projeção – Projeto Conecta
O Luiz Roque no caso já é um artista mais voltado para a produção videográfica e audiovisual, mas que a meu ver tem uma pesquisa com viés muito próprio sobre o corpo, ou seja, ele trará uma visão do corpo/performance no campo do audiovisual.
Luiz Roque – Ano Branco – still de vídeo – foto divulgação
Laura Lima – Performance – Marra – foto Olle Kirchmeier
Claudio Bueno – Monumentos Invisíveis – foto Sebastién Hudon
BM – Bom, assim como no curso anterior, o acompanhamento se dá através de uma grande interlocução entre eu, os participantes e os convidados, cada artista possui uma demanda específica. As interlocuções são realizadas das mais variadas formas, às vezes pairam por questões mais técnicas, outras vezes por questões mais poéticas e conceituais, enfim não tem muito uma fórmula, o que podemos de fato encarar como metodologia é que o artista participante encontrará esse lugar de troca, quase que um acompanhamento realizado de forma customizada, que será embasado com todas as discussões teóricas que serão desenvolvidas ao longo do curso além das atividades práticas que realizaremos.
Como resultado no final do curso acho que uma mostra dos trabalhos desenvolvidos ao longo do processo é sempre interessante, o que não sei ainda é o formato dessa mostra, pode ser uma exposição, no sentido mais convencional, ou dependendo da energia e criatividade do grupo podemos chegar em formatos mais experimentais, como é o caso da publicação sonora que estamos desenvolvendo no programa de arte sonora, acho que isso é uma coisa que se desenvolverá pelo grupo.
Bruno Mendonça
Bruno Mendonça é artista e pesquisador. Formado em Comunicação Social pela Universidade Mackenzie, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professor no curso de Comunicação e Multimeios da mesma instituição. Atua com projetos colaborativos e interdisciplinares desenvolvendo trabalhos em arte impressa, performance, som, além de práticas curatoriais e educativas. Atualmente é colaborador/pesquisador no grupo de pesquisa “Criação e Comunicação nas Mídias” (CCM) na PUC SP.
Foto da abertura do post: Mauricio Ianes – notNo – foto divulgação